sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Extras do fim de semana podem render um novo salário para o trabalhador

Em um cenário com tantas obrigações financeiras e a busca por melhores condições de vida, trabalhadores dobram os ganhos com ‘bicos’ aos sábados e domingos
[ i ] O garçomHenrique Gealh não abre mão de um extra nos restaurantes de Manaus
Manaus - Vale a pena perder um fim de semana por dinheiro? Em um cenário com tantas obrigações financeiras, filhos e a busca por melhores condições de vida, trabalhadores asseguram que 'é válido sim sacrificar as horas vagas para complementar a renda'. Com o trabalho extra, muitos conseguem praticamente dobrar os rendimentos no fim do mês.
A auxiliar contábil Eline Barros, 28, aos sábados, é professora de francês, trabalhando das 8h às 20h. O garçom Henrique Gealh, 34, é concursado da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE) e ainda fica atento aos convites de restaurantes e buffets para ganhar mais nas noites de sexta, sábado e domingo.
Os trabalhadores são dois exemplos entre 234.179 pessoas no Amazonas que, por semana, trabalham 49 horas ou mais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Em 2008, Eline começou a se dividir entre os dois trabalhos. Na época, ainda iniciando no ramo contábil, ela ganhava entre R$ 600 e R$ 700 pelo trabalho em um escritório, renda que complementava com os R$ 500 das aulas de francês, aos sábados.
Com a rotina desgastante e a vontade de se dedicar mais à área da Contabilidade, no final de 2010, Eline abandonou as aulas de francês. “Estava muito cansada mentalmente. Trabalhava muito e não tinha tempo para estudar e nem para ficar com minha família”, lembrou.
Mais tarde, diante de uma melhor proposta de emprego, ela retornou ao magistério e, hoje, sua principal fonte de renda é o ensino do idioma estrangeiro, atividade que lhe dá um salário de R$ 1.100. A contabilidade, agora, é quem complementa a renda.
Trabalho dobrado
Garçom desde 2000, Henrique disse que o costume de trabalhar sete dias por semana foi ensinado pela família de apicultores do Paraná. Ele chegou ao Amazonas motivado por um curso de cultivo de abelhas e, no ano passado, foi convocado para a ALE, após ser aprovado no concurso público na vaga de garçom.
Apesar de receber cerca de R$ 2.300 mil por mês, somando o salário base e os benefícios do cargo, ele não dispensa convites para exercer a atividade de forma eventual em restaurantes e buffets. Os ‘bicos’ rendem entre R$ 90 e R$ 150 por noite, podendo somar entre R$ 400 até R$ 1.200 de extras no fim do mês.
“Depende muito do movimento, mas sexta-feira e sábado são os principais dias”, disse Henrique, que destacou o mês de dezembro, com as festas de Natal e Ano Novo como o mais agitado no ramo. “Existe um desgaste. Eu até levava isso em conta antes, mas agora, com casamento e duas filhas não dá mais para dispensar trabalho”, afirmou. “Já cheguei até a chamar cliente de deputado”, brincou.
Limite
As reclamações de Eline e Henrique quanto a fadiga causada pelos dias reduzidos de descanso são legítimas. Para o médico do trabalho Ricardo Bessa, a sobrecarga de atividade física e mental pode comprometer a saúde de qualquer pessoa. O trabalhador precisa ficar atento aos fatores de risco que o circulam, como barulho e poeira, além de conhecer as respostas e os seus limites do corpo.
Bessa citou exemplos de pessoas que tinham dois empregos e acabaram adquirindo lesões por esforço repetitivo. “O corpo precisa descansar, mas o período depende muito da exposição aos riscos”, afirmou. “Todo mundo tem seu limite e vai ter uma resposta de estresse e fadiga se ultrapassá-lo”, disse.

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